O antigo Presidente da Namíbia, Hifikepunye Pohamba, apelou publicamente ao Governo angolano para pôr fim à situação de vulnerabilidade de crianças angolanas que atravessam a fronteira para pedir esmolas nas ruas de Windhoek, a capital namibiana.
Durante uma intervenção institucional na Universidade de Ciência e Tecnologia da Namíbia, em Eenhana, Pohamba expressou preocupação com a recorrente presença de menores angolanos em situação de mendicidade na capital do país vizinho, sublinhando que o fenómeno transmite uma imagem negativa da Namíbia ao mundo.

“Quando os turistas chegam e vêem crianças a pedir nas ruas, pensam que são namibianas”, lamentou o ex-estadista, que governou entre 2005 e 2015 e é laureado com o Prémio Mo Ibrahim de Excelência em Liderança Africana.
Alerta sobre abandono escolar e exploração infantil transfronteiriça
Para além da mendicidade, Pohamba denunciou a utilização de crianças angolanas como mão-de-obra informal nas zonas rurais da Namíbia, onde são frequentemente empregues como pastores de cabras e gado bovino.
“As crianças angolanas são trazidas para cuidar dos rebanhos, enquanto os nossos filhos vão à escola. Isto tem de acabar”, afirmou com firmeza.
A crítica, dirigida de forma diplomática ao Estado angolano, centra-se na ausência de políticas de protecção à infância nas províncias fronteiriças, nomeadamente no Cunene, onde muitas das famílias vivem em condições de extrema pobreza.
Educação como chave para o desenvolvimento
Pohamba defendeu que Angola deve investir urgentemente na construção de escolas no Cunene, de forma a reduzir a migração infantil indocumentada e garantir acesso à educação básica como direito universal.
“Pode um país realmente prosperar se as portas do conhecimento permanecerem fechadas aos menos afortunados?”, questionou, acrescentando que a educação deve ser encarada como base para o crescimento económico, a justiça social e o desenvolvimento nacional.