Em Luanda, pela primeira vez em vários anos o ritmo anual do aumento do custo de vida foi inferior à média nacional já que encerrou 2022 nos 13,1%. Sem a subsidiação estatal aos combustíves, que terá custado quase 3 mil milhões USD aos cofres públicos, os números da inflação seriam ainda mais preocupantes.
O ritmo anual de aumento do custo de vida em Angola abrandou 13,2 pontos percentuais (pp), passando de 27,0% em Dezembro de 2021 para 13,9% em Dezembro de 2022, abaixo da última previsão do Governo, que apontava a 14,4% e dos 21% previstos pelo FMI, de acordo com o Índice de Preços de Consumidor (IPC) de Dezembro do Instituto Nacional de Estatística (INE).
A inflação no final do ano quebra assim, uma tendência de aceleração verificada em 2020 (25,1%) e seguida em 2021 (27,0%). Já em termos mensais, o custo de vida no mês em que tradicionalmente os angolanos mais gastam em consumo aumentou quase 0,9%.
Já em Luanda, pela primeira vez em vários anos o ritmo anual do aumento do custo de vida foi inferior à média nacional já que encerrou 2022 nos 13,1%. Em 2019 a inflação anual na capital do país foi de 17,1% contra os 16,9% a nível nacional, enquanto em 2020 foi de 25,2% em Luanda contra os 25,1% no País. Em 2021 a tendência foi a mesma, já que na capital a inflação registou 30,4% enquanto no país foi de 27,0%.
A “culpa” da subida dos preços verificada nas maiores economias mundiais deve-se, sobretudo, à alta dos preços da energia, uma consequência da guerra na Ucrânia. Tudo isto teve impacto nas carteiras dos consumidores já que os preços dos alimentos e dos transportes dispararam ao longo de todo o ano.
Como em Angola os combustíveis são subsidiados pelo Estado, isto significa que os preços dos transportes e para mobilidade não subiram, não tendo impacto directo, também na curta produção nacional. Por outro lado, também a apreciação em 2022 do Kwanza face às principais moedas estrangeiras, nomeadamente 10% face ao dólar e 17% face ao euro, terá permitido atenuar a subida dos preços.
E há que acrescentar o facto de ter sido um ano eleitoral e de se ter verificado um aumento exponencial das importações, o que permitiu alargar a oferta de bens de consumo no país, travando desta forma a especulação de preços. Ou seja, a apreciação do kwanza permitiu importações mais “baratas”, o que influenciou a redução dos preços e aumentou a oferta aos consumidores, já que quanto mais disponibilidade de bens mais baixos ficam os preços.
Mas o Governo tem referido que a Reserva Estratégica Alimentar (REA), operada pelo grupo Carrinho, também contribui para a desaceleração dos preços – até porque funciona quase como um entreposto comercial de importação de produtos – mas vários especialistas desvalorizam o papel da REA nesta questão.
Ao longo do ano, a desaceleração da inflação levou até o BNA a reduzir a taxa básica de juro de 20,0% para 19,5% em Agosto. Juros mais altos refreiam o consumo e o investimento aliviando a procura e consequentemente a pressão sobre os preços, pelo que se adivinhava um ligeiro aumento dos preços. Mas como a inflação em Angola resulta, essencialmente, de oferta deficitária, as medidas do banco central terão tido pouco efeito nos preços.
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