Os trabalhadores das empresas de transportes rodoviários colectivos da província de Luanda vão paralisar a actividade no próximo dia 11 de Dezembro das zero às 21 horas, anunciou hoje o secretário-geral do sindicato do sector (STTRAL), Daniel Aleluia dos Santos.
O líder sindical fez esse anúncio numa conferência de imprensa que juntou trabalhadores das operadoras TCUL, TURA, Macon, SGO, membros da Associação de Concessionárias de Automóveis e Oficinas (Acetro), da Transcol (associação) e da Toyota.
O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes Rodoviários e Afins de Luanda (STTPAL) disse estarem na base da paralisação dos serviços de transportes de passageiros, o incumprimento do Governo em relação ao pagamento das subvenções e as dificuldades das concessionárias de importar peças reposição de viaturas.
Alegações do sindicato
A agremiação indicou que o Governo tem dívidas com as transportadoras de passageiros colectivos pelo facto de não pagar a subvenção de 30 porcento do preço do bilhete, há mais de oito meses.
O compromisso existente entre o Governo angolano e as transportadoras rodoviárias de passageiros é que o Estado pague parte do valor do bilhete e o passageiro desembolse a outra parte.
Empobrecimento das empresas do ramo e desgaste da frota por falta de peças de reposição, capacidade financeira assim como dificuldade de renovação dos meios.
De igual modo, é motivo da paralisação dos serviços de transportes aludido pelo STTRAL a omissão aos pedidos de diálogo dirigido aos ministérios das Finanças, Transportes e à Presidência da República, desde 2003, para se encontrar soluções.
A falta de decisão em relação à subida da tarifa dos transportes de passageiros colectivos para fazer face às necessidades das empresas.
Alegam também a dificuldade que as concessionárias de automóveis têm de importar acessórios e peças sobressalentes por falta de uma política rigorosa de aquisição constante, fornecimento e abastecimento regular desses equipamentos.
Enquadram-se ainda, entre as razões da paralisação dos serviços, o pagamento pontual das subvenções, a implementação da faixa “BUS”, para aumentar a velocidade comercial das empresas e a reparação imediata das estradas.
Consequências
Essa situação, segundo o sindicalista, tem promovido falência das empresas do sector e estas, por sua vez, para se equilibrarem estão a despedir trabalhadores por falta de capacidade financeira para pagar salários e para a manutenção da frota.
Até a data já foram despedidos pelo menos cinco mil e 533 trabalhadores acrescidos de 315 outros, cujo vínculo laboral está suspenso.
No domínio das concessionárias de automóveis e oficinas, a Acetro tem um registo, até 2015, de encerramento de postos de vendas e redução de oito mil trabalhadores (38 porcento) ligados às empresas do ramo.
Tem vindo a registar o aumento de preços nos serviços de manutenção, incapacidade de responder às solicitações de reparação e manutenção aos cerca de 800 mil veículos em circulação no país.
Prevê-se o estrangulamento logístico na cadeia produtiva com destaque para a agricultura e o risco de paralisação do sector mineiro.
Objectivos da paralisação
De acordo com o Daniel Aleluia dos Santos, a paralisação prevista para próxima segunda-feira é um meio para se encontrar vias para resolução do problema através da negociação.
“ Não é objectivo do STTRAL para paralisar os serviços, mas negociar, pois estamos abertos ao diálogo”, sinalizou o sindicalista.
Depoimentos de trabalhadores das operadoras
Os empregados das companhias de transportes colectivos urbanos e interprovincial são unânimes em afirmar que se vive uma situação crítica nas empresas em que se encontram e que só vão trabalhar para não ficarem ociosos em casa.
João Teta Tomás, trabalhador da área técnica da TURA, é uma testemunha do que se vive e declarou à Angop que está há três meses sem salários porque o governo não subvenciona os serviços que prestam conforme compromisso.
Disse que ainda assim está obrigado a ser pontual na empresa sob pena de apanhar faltas e consequentes descontos salariais.
“Estou enfrentando muitas dificuldades para sustentar minha família. Alguns filhos foram compulsivamente postos fora da sala de aula por falta de pagamento da mensalidade”, lamentou o entrevistado.
Disse que a empresa tem operado despedimentos de forma unilateral e sem qualquer indemnização.
Avançou que a empresa prevê despedir 225 trabalhadores e que há um processo em curso para tal.
A TURA nessa altura alega, segundo João Tomás, que grande parte do que arrecada serve para manutenção, compra de acessórios e de combustível para manter funcional a empresa.
Outro interlocutor é o assistente de tráfego da SGO, Domingos António Cipriano, que disse estar há oito meses sem salários, alegadamente por incumprimento e atraso do estado no pagamento das subvenções.
A companhia tem dívida com mais de 600 trabalhadores e este ano já desvinculou de mais de mil trabalhadores, em duas fases, estando cerca de 300 trabalhadores suspenso.
Por sua vez, Kafuxi Alfredo, trabalhador da Macon, disse que estão todos sensibilizados e mobilizados para paralisarem os serviços, a fim de forçar o Governo a dar resposta ao actual quadro do sector transportes de colectivos de passageiros.
Reacção dos cidadãos sobre a paralisação
A respeito do anúncio de paralisação dos serviços, Eduardo Adriano, passageiro que estava prestes a embarcar num autocarro da Macon, no Largo das Escolas, disse à Angop que se tal situação se concretizar vão prejudicar muito a população que se beneficia desses meios para chegar aos locais de trabalho.
“Eu sou contra a paralisação. O governo deve resolver esses problemas rapidamente enquanto em tempo”, afirmou o cidadão.
Luís Correia, funcionário público, também foi encontrado na paragem e ficou surpreendido ao ouvir que haverá paralisação. A sua posição é que se isso se efectivar causará muitas dificuldades à sua vida.
O entrevistado apelou ao bom senso das empresas do sector para não prejudicar principalmente os trabalhadores.
“Como é que vamos nos deslocar sem a circulação dos autocarros públicos”, questionou Domingas Joaquim Maiunga, mulher de aproximadamente 65 anos.
Afirmou que depende de autocarros para me deslocar e que não tenho dinheiro par apanhar táxis.” Se não houver transportes os trabalhadores não devem ir ao trabalho”, disse a senhora que parecia irada com a notícia.