Um total de 322 milhões USD é quanto custam dez aviões Bombardier que o Governo quer comprar para a nova operadora de voos domésticos. As aeronaves do modelo Q-400 são comercializadas por 32,2 milhões USD cada pela fabricante canadiana, apurou o Mercado.
Todavia, sabe-se que nova operadora é um consórcio de várias empresas angolanas que actuam no sector. Contudo, muitas das quais já falidas. Continue a leitura…
De acordo com uma nota do Ministério dos Transportes, a nova operadora de transporte aéreo poderá funcionar com aeronaves do tipo Q-400, com um custo operacional baixo, tratando-se de aviões turbo-hélice com performances adequadas a qualquer aeródromo existente no País.
Numa visita recente ao Canadá, o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, certificou “as potencialidades” do fabricante de aeronaves do tipo Bombardier Q-400, com sede e representação nas cidades de Montreal e Toronto.
“Trata-se de um tipo de aeronave que tem sido utilizado com sucesso na actividade comercial aérea em vários países do continente africano”, frisou.
Esta decisão, disse, permitirá corrigir “erros de vários anos”, em que foram utilizadas aeronaves do tipo Boeing 737-700 para voos curtos e de pouca procura, o que “contribuiu, de forma manifesta, para os resultados financeiros negativos da companhia de bandeira nacional”, segundo o ministro.
Para o governante, estão identificados os meios e equipamentos que vão dinamizar a actividade comercial, “visando em primeira instância encurtar as distâncias entre as regiões do País, a preços baixos, competitivos e conformar todos os pressupostos inerentes às normas internacionais da aviação civil”.
Decisões da discórdia
Porém, o Mercado sabe que a criação da nova companhia aérea e a decisão de redução do preço dos bilhetes de passagens dos voos domésticos de 10% a 20% estiveram na origem do pedido de demissão do administrador da TAAG para a área comercial, William Boulter, que chegou em Setembro de 2015 com uma equipa de quatro outros executivos nomeados no âmbito do contrato de gestão com a Emirates.
“A criação da nova operadora para voos domésticos foi um dos motivos que levaram à sua demissão, porque ele defendia que a estratégia para rentabilização da empresa nacional passa pelas rotas internas”, confidenciou um antigo responsável da companhia de bandeira nacional, que preferiu o anonimato.
Já a nota de imprensa da TAAG alega que “motivos de doença” pesaram na saída do dirigente, atribuindo-lhe “um serviço inestimável à TAAG” e a responsabilidade pelo desenvolvimento do conceito de hub – plataforma ou centro de conexões – na indústria da aviação civil angolana.
Através da parceria entre os sectores público e privado, num consórcio liderado pela TAAG, o Governo vai criar a nova companhia aérea, que poderá denominar-se Angola Expresso, contando com oito a dez aeronaves Bombardier Dash Q-400, com capacidade para até 72 passageiros.
Quanto à compra dos Bombardiers, o antigo responsável da companhia ouvido pelo Mercado concorda com a aposta, adiantando serem “bons aviões para rotas curtas e que, do ponto de vista económico, são mais vantajosos, porque os Boeings são para rotas de mais de cinco horas, pelo que as revisões permanentes custam muito dinheiro”.
Ministro reprova aviões que comprou no passado
No entanto, a fonte recorda que Augusto Tomás reprova hoje os Boeings para voos internos, mas foi ele mesmo que defendeu a compra das aeronaves há 12 anos.
Por outro lado, o experimentado funcionário da TAAG revela que as companhias nacionais que farão parte do consórcio para a nova transportadora estão todas falidas e, por isso, não entende como irão entrar no negócio.
“Uma coisa é clara: as empresas são de dirigentes do País e, como estão a falir, a estratégia para recuperá-las é essa. Não há necessidade de se criar essa nova companhia”, defende o entrevistado com mais de 40 anos na transportadora aérea de Angola.
Segundo o ministro, a nova operadora vai dar a possibilidade da formação de pilotos, mecânicos, assistentes de bordo, entre outros, condição que “tem afectado a nossa indústria aeronáutica nos últimos tempos, devido à crise financeira que se tem vivido”.
A nova operadora de transporte aéreo doméstico não tem uma data prevista para entrar em funcionamento, mas uma nota do ministério da tutela informa que “nos próximos tempos vai proporcionar a criação de mais emprego e investimento na formação de quadros angolanos”.
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