As dívidas antigas do anterior dono da rede de hipermercados, o grupo Zahara, são uma autêntica dor de cabeça para o novo gestor, que vê fornecedores a recusarem-se a vender produtos até que a dívida seja saldada. Direcção faz balanço positivo, mas queixas de trabalhadores ensombram esse balanço.
Um ano depois da reabertura das lojas Kero, sob a gestão da Accord, do grupo Anseba, o passado da rede de supermercados, que foi construindo uma reputação tóxica junto dos seus fornecedores, está a pesar e a dificultar a actual gestão.
Numa ronda feita em várias das lojas Kero na capital do País, foi possível ver que algumas apresentam menos trabalhadores em relação ao passado, o mesmo acontecendo em relação a clientes. Há também dificuldades para encher algumas prateleiras das lojas, conforme referiram alguns trabalhadores.
Entre os problemas que a nova gestão enfrenta estão dificuldades para entendimento com alguns fornecedores nacionais da antiga gestão, nomeadamente o grupo Zahara e mais tarde o próprio Estado, quando foi resgatado pelo Serviço Nacional de Recuperação de Activos (SENRA), que agora se recusam a fornecer novamente a rede.
Apesar do número de problemas operacionais que a Accord teve de enfrentar desde que entrou no Kero, a empresa faz um balanço positivo. O director dos Recursos Humanos, Mário Arão, justifica essa avaliação positiva com o facto de terem conseguir cumprir a reabertura de todas as lojas no universo Kero espalhadas em Luanda e, em algumas províncias.
Trabalhadores queixam-se de “atropelos” aos contratos
Mas se a direcção faz um balanço positivo da transição, vários funcionários da rede de supermercados queixam-se de violações aos seus contratos assinados ainda durante a vigência da gestão da Zahara. Os vários trabalhadores ouvidos pelo Expansão reclamam da perda de alguns benefícios, como a retirada de subsídios de turno, cartões de saúde, ou a suspensão ao apoio de transporte em caso de acidente de trabalho. Dizem também terem existido despedimentos sem aviso prévio, bem como tratamento diferenciado em relação a estrangeiros e queixam-se de um aumento substancial da carga de trabalho devido à diminuição de funcionários face ao passado.
“Neste momento nós não sabemos qual é o nosso salário exacto. Assinámos contrato com o grupo Zahara, mas quando o Estado passou a gestão para a Anseba, passou uma adenda, que diz que os direitos, deveres e obrigações deveriam ser mantidos conforme o contrato antigo, mas não é o que se vê”, alega uma das funcionárias do Kero Kilamba.
Para os queixosos, alguns com mais de 10 anos de trabalho, nas lojas do Kero há um “ambiente de desânimo”, o que tem feito com que muitos trabalhadores vão abandonando o emprego. Em forma de revindicação, os funcionários já paralisaram os trabalhos e apresentaram queixas ao tribunal de trabalho. Alegam que a direcção do Kero não atende as suas notificações e reclamações. “Nós queremos que nos paguem conforme o contrato antigo”, referem.
De acordo com Mário Arão, director dos Recursos Humanos, muitas das saídas aconteceram por “motivos alheios à vontade da empresa” e, em alguns casos do trabalhador como, por exemplo, saídas por iniciativa do trabalhador, saídas por justa causa ou ainda, saídas por caducidade. Nenhuma delas foi por despedimento, mencionou. E, “ao ser feito um despedimento (por iniciativa do empregador), respeitando os ditos constantes na Lei Geral do Trabalho (LGT), em nada viola o princípio contratual vindo no sentido de proteger a mão transitada”, refere.
Expansão