Paulo Raimundo recorre a uma história de infância para ilustrar que o Kremlin foi instigado à guerra. E critica a revisão constitucional:”Não tem como não dar asneira”.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, comparou a Rússia a um “cão atiçado” pelos Estados Unidos, NATO e União Europeia e sublinhou que o partido nada tem a ver com as “opções do Governo russo”.
Raimundo falou ainda sobre o processo de revisão constitucional em curso, afirmando recear que vá dar “asneira” e defendendo que o que é preciso é cumprir a Lei Fundamental.
Em entrevista à Lusa, Paulo Raimundo considerou que a posição do PCP em relação ao conflito na Ucrânia é “simples e simultaneamente complexa”.
“Não há dúvida de que há uma intervenção militar russa na Ucrânia” que o PCP “não relativiza”, sustentou o novo secretário-geral do PCP, que recorreu a uma história de infância para ilustrar que o Kremlin foi instigado.
“Tenho um amigo de infância que tinha um cachorrinho. Então, a brincadeira que se montou que era uma coisa completamente absurda era três crianças que atiçavam o cão. Atiçavam o cão, quando o cão vinha para morder gritavam e o cão coitado baixava… Esse meu amigo, que era o dono do cão, quando foi a vez dele de fazer esse movimento de atiçar o cão, o cão deu-lhe 20 e tal dentadas. Ao dono! E a pergunta é: a culpa é do cão? O cão é culpado desse acto?“, elaborou Paulo Raimundo.
O dirigente do partido reconheceu que “esta história pode parecer um bocadinho absurda”, mas tem como finalidade “contextualizar” que os Estados Unidos, a NATO e a União Europeia “parecem os três meninos a atiçar o cão”.
“É que não começou o problema em 24 de fevereiro [data da invasão da Ucrânia pela Rússia]. Ele teve um escalar condenável nesse dia mas não começou aí” disse, afirmando que o PCP condenou “desde o princípio a intervenção militar russa, até por questões do direito internacional”.
“Nós não menosprezamos, nem relativizamos, a intervenção militar russa”, completou o secretário-geral comunista, que entrou em funções há três dias.
Paulo Raimundo, que ao longo da entrevista evitou sempre utilizar a palavra “invasão”, acabou por fazer equivaler as expressões “intervenção militar”, “ação militar” e “invasão militar”, recusando que a posição do PCP legitime o conflito que começou a 24 de fevereiro em território ucraniano.
Sobre a revisão constitucional em curso, o novo secretário-geral do PCP considerou que “o que todos deviam fazer era a exigência da concretização do texto fundamental e não embarcar numa aventura que vai dar asneira.” “Desculpem antecipar um processo, mas não tem como não dar asneira“, acrescenta Raimundo.
Questionado sobre o que o leva a recear que o processo corra mal, Raimundo sustentou: “Há sempre qualquer coisinha para alterar e depois, quando damos por ela temos a Constituição descaracterizada“.
O líder do PCP disse que o partido apresentou também um projeto de revisão porque decidiu não ficar “sem instrumento de batalha política” nessa discussão. Para o PCP, não é relevante que tenha sido o Chega a abrir o processo de revisão constitucional, já que “mais do que a forma, o que interessa é o conteúdo”.
Reconhecendo que são positivas, “mas insuficientes” as medidas do Governo para contrariar os efeitos da subida dos preços e das taxas de juro, Paulo Raimundo sublinhou que “há duas questões que custam sair do papel” e que são essenciais, a necessidade de um “aumento significativo” dos salários e de fixar os preços do cabaz alimentar.
Observador