A Procuradoria-Geral da República recorreu da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal do Paraná em investigações da Lava Jato.
A PGR pediu que os processos permaneçam na Justiça Federal do Paraná e que sejam mantidas as condenações.
Com isso, o caso deve ser levado para julgamento no plenário do Supremo. Ainda não há data para que isso ocorra.
Agora, cabe a Fachin, que é o relator, liberar o processo para análise. O presidente do STF, Luiz Fux, já indicou que dará celeridade ao julgamento.
PGR recorre da decisão que anulou condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato
Na segunda-feira (8), Fachin anulou, numa decisão individual, todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná ao ex-presidente Lula no âmbito da Lava Jato.
Em consequência disso, Lula recuperou os direitos políticos e se tornou elegível. O ministro determinou que as acções sejam remetidas para Justiça Federal do DF, a quem cabe analisar se é possível aproveitar provas. .
O ministro Fachin baseou a decisão no entendimento que o STF teve noutros casos, relativos a diferentes partidos, para concluir que a Justiça de Curitiba não tinha competência para julgar os casos, porque não havia relação directa apenas com os desvios de recursos da Petrobras (alvo da Lava Jato), mas também com outros órgãos da administração pública.
O recurso é assinado pela subprocuradora Lindôra Araújo, coordenadora da Lava Jato na PGR.
Argumentos da PGR
No documento, a subprocuradora argumenta que a jurisprudência do STF em relação à competência da 13ª Vara Federal em Curitiba é a de que cabe a esta instância judicial analisar tanto os crimes cometidos directamente contra a Petrobras quanto casos conexos.
Segundo o MP, a acção penal relativa ao triplex tem relação com os crimes praticados contra a Petrobras.
“O apartamento triplex concedido a Luiz Inácio Lula da Silva, assim como outras vantagens destinadas ao ex-presidente e apuradas em acções penais próprias, consistiu em retribuição pela sua actuação de modo a garantir o funcionamento do esquema que lesou a Petrobras.”
“Uma contraprestação” segundo Lindôra “não específica pelas contratações de obras públicas ilicitamente direcionadas da Petrobras, em ambiente cartelizado, às empresas do Grupo OAS”
A PGR sustenta ainda que, no caso do triplex, é “indubitável” a competência da Justiça Federal de Curitiba.
Em relação aos outros três processos – sítio de Atibaia, a compra de um terreno para a nova sede do Instituto Lula e as doações da Odebrecht para a mesma instituição – , o MP também vê relação com o esquema que actuou contra a Petrobras.
“Os factos ilícitos versados nas referidas acções penais estão, a toda evidência, associados directamente ao esquema criminoso de corrupção e de lavagem de dinheiro investigado no contexto da ‘Operação Lava Jato’ e que lesou directamente os cofres da Petrobras”, diz o recurso.
“Em conclusão, entende este órgão ministerial que os referidos feitos, por terem por objeto crimes praticados no âmbito do esquema criminoso que vitimou a Petrobras, estão inseridos no contexto da chamada “Operação Lava Jato” e, por tal razão, com acerto, tramitaram perante o Juízo da 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná”, concluiu a PGR.
Decisão de Fachin
Uma das acções é sobre o tríplex do Guarujá, a primeira condenação de Lula, em julho de 2017.
O então juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com a Lava Jato, a OAS pagou propina a Lula por meio de reservar e reforma do triplex.
Em contrapartida, segundo as investigações, a empreiteira teria sido favorecida em contratos na Petrobras.
Essa condenação foi confirmada em segunda e terceira instâncias e levou o ex-presidente a ficar preso em Curitiba por 580 dias, até que o Supremo decidiu que só deve ser preso o réu condenado em última instância, sem chance de recurso.
Fachin também anulou a condenação no caso do sítio de Atibaia, proferida pela juíza substituta Gabriela Hardt em fevereiro de 2019 e confirmada em segunda instância.
Ele foi acusado de receber propina da OAS e Odebrecht por melhorias no sítio que usava em fins de semana.
As outras duas acções anuladas ainda não tinham sentenças em primeira instância.
O GLOBO