O relatório sobre os abusos sexuais a menores na Igreja Católica em Portugal revelou que foram validados 512 testemunhos, num total de 4815 vítimas, anunciou o pedopsiquiatra Pedro Strecht, líder da comissão independente que estuda os casos.
Contudo, o profissional ressalta que “não é possível quantificar o número total de crianças vítimas”, referiu, uma vez que o contacto com a comissão era voluntário.
O relatório publicado esta segunda, 13, pelo Diário de Notícias, revela que as vítimas são maioritariamente das cidades de Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. Os estudos globais de abusos sexuais a menores apontam que 18% das meninas são vítimas de abuso sexual até aos 18 anos.
“Importa referir que na realidade, foi apenas a partir de 1995 que estes crimes passaram a ser inscritos no Código Penal português enquanto abuso sexual de crianças, e apenas a partir de 2007 se tornaram públicos”, frisou Pedro Strecht
“Sabemos também, que a percentagem da sua existência enquanto praticada por membros da Igreja é muito pequena, sobre a realidade do assunto dos abusos sexuais de menores em geral”, acrescentou Pedro Strecht, reforçando também que é “baixo o número de abusadores dentro do seio da Igreja e, por isso mesmo, continua a ser importante não confundir a parte com o todo”.
“Tenho 71 anos, mas nunca esqueci ou esquecerei”, disse uma das vítimas, citada por Pedro Strecht.
O pedopsiquiatra revelou ainda que “há casos em todos os distritos”. A incidência nestes distritos explica-se em parte, pela existência de seminários ou outras instituições religiosas.
A maioria dos abusos decorreram em locais como seminários, colégios internos ou instituições de acolhimentos, sacristia, confessionário, a casa do pároco e no seio dos agrupamentos de escuteiros.
A média de idades das vítimas era de onze anos e 20,1% das vítimas têm hoje menos de 40 anos. O relatório aponta ainda que 96% dos autores dos abusos eram do sexo masculino, sendo que 77% eram padres.
Segundo a socióloga e investigadora, Ana Nunes de Almeida, 58,2% das vítimas eram do sexo masculino e 42,4% mulheres e hoje têm uma idade média de 52,4 anos. Na altura dos abusos, 58,6% das vítimas residia com os pais.
As décadas de 1960, 70 e 80 do século XX foram as que registaram um maior número de casos de abuso sexual no seio da Igreja em Portugal.
Em relação às modalidades de abuso, predominam sexo anal e manipulação de órgãos sexuais e masturbação no caso das vítimas masculinas e insinuação em vítimas masculinas. A maioria das vítimas foi abusada mais do que uma vez.
Entretanto, dos abusados, 53% continuam a afirmar-se católicos e 25,8% são católicos praticantes.
Em média, as vítimas demoram cerca de dez anos para revelar os abusos. Os homens fazem-no ao cônjuge e a amigos, as mulheres normalmente a familiares ascendentes.
“Normalmente, acontece antes da puberdade e as vítimas são próximas do abusador e há uma relação de poder do abusador sobre a vítima”, afirmou o psiquiatra Daniel Sampaio, que revelou que 18 por cento das meninas e oito por cento dos rapazes são vítimas de abuso sexual antes dos 18 anos.
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