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Preços do cimento dispararam 33% em plena crise cambial

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Os operadores do sector alegam altos custos de produção para justificar os aumentos, até porque praticamente tudo o que é utilizado para a produção de cimento vem do estrangeiro. Admitem que é preciso que a indústria da construção aqueça com mais obras de qualidade para aumentar o consumo e baixar preços.

A desvalorização cambial verificada nos últimos meses, com o kwanza a depreciar 40% face ao dólar, fez disparar os preços dos materiais de construção, com destaque para o cimento, betão, aço, alumínio, areia, brita e outros, obrigando as empresas produtoras e revendedores a ajustar os preços. Só os preços do cimento cresceram 33% no retalho e 29% a grosso.

Os patrões e gestores são unânimes em reconhecer que construir em Angola ficou mais caro nos últimos tempos, não só para as empresas promotoras imobiliárias emas também para as famílias. E alertam que esta crise veio comprometer vários investimentos já realizados no final do ano passado e no primeiro trimestre deste ano, como por exemplo vários projectos habitacionais privados que estavam a crescer na periferia de Luanda.

Acresce que além da subida exponencial dos preços, em que uma saca de cimento passou de 4.500 Kz para 6.000 Kz em poucos dias, o mercado também se debate com uma quebra da oferta ao nível do cimento, o que acaba por fazer crescer ainda mais os preços nos mercados informais, comprometendo também o “sonho da casa própria” das famílias.

“Muitos revendedores de materiais de construção foram obrigados a fechar as portas porque as empresas limitaram as vendas, seleccionando apenas alguns grupos empresariais como revendedores oficiais dos seus produtos”, disse uma fonte do sector ouvida pelo Expansão.

Segundo o presidente da Associação da Indústria Cimenteira de Angola (AICA), Manuel Pacavira Júnior, reconheceu o impacto da crise cambial na actividade e garante que os ajustes dos preços são da responsabilidade das cimenteiras. A política de venda de cimento nas fábricas, prosseguiu, depende de cada empresa e lembra que hoje há empresas que apenas vendem cimento aos seus revendedores (distribuidores) oficiais, ou seja, às empresas legalmente constituídas. Isto porque a AGT está atenta ao sector.

Ainda sobre a crise cambial, Pacavira Júnior entende que o momento actual para a indústria cimenteira nacional, é crítico. “A julgar pela capacidade instalada das cimenteiras para a produção de cimento e em relação à comercialização, nos últimos cinco anos em média rondou os 29% da capacidade instalada, ou seja, cerca de 2,4 milhões toneladas por ano”, disse. Lembra, no entanto, que o maior consumidor de cimento a nível do País é o Estado, e constata-se um volume de obras públicas reduzido. Isto afecta a actividade das empresas, admite.

Num país onde as estradas são um problema público, o presidente da AICA considera que a construção de estradas de betão e solo de cimento poderia forma aumentar o volume de cimento a ser comercializado, nomeadamente em alguns troços das estradas principais, secundárias, terciárias e outras. Esta seria uma solução mais económica em relação ao asfalto.

Para poder baixar os preços do cimento será necessário não só um kwanza mais forte mas implementar estratégias que visem baixar os custos de produção desta matéria-prima. Pacavira Júnior defende, por exemplo, alternativas aos combustíveis fósseis na produção já que o diesel represente 50% dos custos de produção.

A presidente do conselho de administração da Fábrica de Cimento do Kwanza Sul, Emanuela Lopes, admite que produzir cimento e outros derivados é muito caro e consequente, quem paga a factura é o consumidor final. A FCKS produziu, em 2021, 481 mil toneladas de clínquer e 685 mil toneladas de cimento, enquanto em 2022, verificou-se um recuo de 21%. “Produzimos 379,3 mil toneladas de clínquer e 589,6 toneladas de cimento”, disse Emanuela Lopes.

Entende que a indústria cimenteira, no seu geral enfrenta um desafio enorme nos próximos tempos. “Desde 2015 que se começou a registar um declínio dos níveis de produção e vendas, operando as fábricas entre 30% a 35% das suas capacidades instaladas. E essa situação deve-se à incapacidade de o mercado absorver a oferta interna do cimento. Esse é o maior desafio que as fábricas enfrentam neste momento”, referiu a gestora, tendo lembrado que havendo obras no País que consumam quantidades significativas de cimento, o sector haveria de beneficiar com isso. “O consumo do cimento seria maior, o que estimularia as fábricas a aumentar os níveis produtivos e consequentemente baixar o custo unitário do cimento”, explica.

Expansão

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