Os taxistas destacados capital angolana, Luanda, querem formalizar a sua actividade, mas acusam as entidades oficiais de não terem a mesma vontade.
O acesso aos benefícios sociais e a possibilidade de recorrer ao crédito bancário são as “exigências” dos profissionais ouvidos pelo jornal Expansão.
Os taxistas de Luanda queixam- -se que ninguém quer formalizar a sua actividade, o que os deixa fora do acesso aos benefícios sociais e ao crédito.
“Não existe um único taxista que tenha conseguido uma residência numa centralidade, isso porque os requisitos exigidos não podem ser preenchidos pelos taxistas“, confirma Francisco Paciente, presidente da Associação Aliança Nova dos Taxistas de Angola.
“Somos vistos como “biscateiros”, como pessoas sem profissão que usam o táxi para ganhar dinheiro, somos proibidos até de entrar em algumas zonas da cidade por acreditarem que vamos criar desordem nestes locais.”
“Quem é que nos vai dar crédito para comprar carros próprios ou permitir o acesso a habitação se a intenção do Governo é acabar com essa actividade?”.
Foi com esta pergunta que António Adão, taxista há mais de 10 anos, recebeu a reportagem do Jornal Expansão durante uma ronda feita esta semana em várias paragens de táxi da cidade capital.
Na rota dos Congolenses até ao São Paulo, António Adão fazia quando eram 11 horas a quarta rota do dia. Falando à nossa reportagem sem muita vontade, desmotivado e com alguma dureza nas palavras, o profissional acredita que a formalização da referida classe é caso para esquecer.
Para ele não há intenção de nenhuma instituição governamental para dar seguimento ao processo de formalização, o que lhes retira a possibilidade de desenvolver um negócio próprio e melhorar a condição das famílias.
Todos os taxistas entrevistados pela nossa reportagem lamentam o facto de serem excluídos de praticamente todos os projectos de acesso ao crédito para a compra de viaturas próprias, acesso a habitação e dos projectos de fomento da empregabilidade, na perspectiva do aumento da renda familiar.
Do Rocha Padaria até aos Congolenses é a rota percorrida todos os dias por Manuel Vunge, taxista há mais de 14 anos, que lamenta, assim como a maioria dos entrevistados, o facto de nunca ter podido comprar uma viatura própria por falta de condições financeiras.
Todos os dias carrega em média 230 a 250 pessoas a cobrar 150 Kz por pessoa, uma renda diária que oscila entre os 34.500 Kz a 37.500 Kz. Vão 20.000 para o patrão e o resto divide-se entre o pagamento ao cobrador, as cotas que têm de ser pagas diariamente nas placas a que pertencem, a gasolina e o lotador.
No fim do dia, Manuel pode levar para casa pelo menos 8 mil Kz , que acredita não ser uma renda má, mas o seu sonho é juntar é juntar 25 milhões Kz para poder comprar um viatura nova e trabalhar para si, o que nas condições actuais, é impossível.
Maurício Ernesto tem 33 anos e é taxista há 11 anos, pai de 4 filhos vive numa casa de renda e diz que não pensa em inscrever-se em nenhum programa do governo de acesso a habitação porque entende que esses projectos são feitos para os trabalhadores do sector público.
“Nunca vi um único colega que tenha conseguido uma casa em qualquer centralidade porque nós não somos vistos com seriedade.”
“Não temos nenhuma protecção, há proprietários que exigem até 30 mil Kz diários aos funcionários sob pena de perder o emprego se não entregar esses valores, e ninguém diz nada isso. É uma exploração”, desabafou.
A posição da ANATA
Francisco Paciente, Presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola, afirma que a associação tem discutido com o governo a situação da formalização da actividade, mas reforça que não há interesse na formalização da referida classe.
“Além da inscrição dos taxistas no sistema de protecção social individual em regime particular, nós precisamos de uma carteira profissional.”
“Todos os dias entram e saem pessoas desta profissão porque à partida, nem a lei nos favorece. Exigimos uma lei para a profissionalização da actividade que deverá implicar entre outros o registo da viatura e do motorista, para que em qualquer ponto da cidade nós os possamos localizar por via de uma aplicação que temos aqui na ANATA. Seria uma boa forma de dar mais segurança aos passageiros” disse.