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Rafael Marques expõe execuções sumárias dos Serviços de Investigação Criminal

Data:

O jornalista e activista Rafael Marques publicou através do seu blog um relatório sobre alegados actos excessivos de agentes do SIC onde se destacam execuções sumárias.

Rafael Marques classificou os alegados actos como mau trabalho do SIC.

Caso n.º 2 Um mau trabalho

Vítimas: Domingos António Gaspar “Milton”, 25 anos; Lameth Pepito Laurindo “Lami-Py”, 20 anos, ambos naturais de Luanda

Data: 30 de Setembro de 2017

Local: bairro da Mabor, município do Cazenga

Ocorrência:

Por volta das três da madrugada, os jovens Milton e Lami-Py dirigiam-se a casa, no bairro da Mabor, vindos de uma festa na Casa Dubai, no bairro Hoji-Ya-Henda, quando foram apanhados na perseguição de dois supostos delinquentes, um dos quais conhecido por Jó do Boy, por operacionais do SIC.

Segundo testemunhas oculares, os quatro agentes estavam devidamente identificados com coletes do SIC, e faziam a perseguição a pé, enquanto outros dois seguiam num Toyota Land-Cruiser branco de vidros fumados.

António Domingos Miguel, pai de Milton, narra o sucedido através dos depoimentos recolhidos junto dos vizinhos e outras testemunhas oculares.

A 28 de Setembro, na cidade de Malanje, onde ambos viviam, Milton informara-o de que visitaria a mãe em Luanda naquele fim-de-semana. E assim fez.

“A 50 metros de casa, os jovens foram surpreendidos pelo SIC. Os vizinhos que escutaram pela janela disseram-me que o meu filho ainda conversou com os homens do SIC. Explicou-lhes que vivia em Malanje, tinha terminado o curso de electrónica.”

Durante a conversa, um dos agentes fez um disparo para o chão e, segundo dois jovens que assistiam, a bala atingiu a perna esquerda de Milton, que logo gritou por socorro. Uma vizinha abriu a porta para atestar o bom carácter dos jovens.

“Os rapazes imploraram, disseram que nunca foram bandidos. Os homens do SIC ainda consultaram as suas listas de alvos a abater, mas um deles fez logo um disparo que atingiu Milton no peito. O meu filho morreu na estrada”, conta o pai.

Por sua vez, Lameth, ao ver o amigo tombado, encetou a fuga aos gritos de socorro. Tentou entrar em casa da vizinha, que, em vão, alertou os perseguidores de que os jovens eram “bons” filhos do bairro. “Cala a boca e fecha a porta, se não queres morrer”, ameaçou um dos agentes, segundo depoimentos recolhidos no local.

Lameth fugiu por um beco sem saída, o mesmo por onde seguira Jó do Boy. Escondeu-se na casa de banho (separada da casa) de uma vizinha.

“Fuzilaram-no na casa de banho, à queima-roupa, com um tiro do lado direito da cabeça e outro da testa, no canto onde estava de cócoras. Deixaram-no aí”, relata um dos vizinhos.

“O meu vizinho Bebucho, que assistiu a tudo, foi quem apanhou o Jó do Boy na fuga.
Os agentes algemaram-nos a ambos e ali mesmo perguntou ao Bebucho se este os tinha visto a matarem os seus amigos. Libertaram-no”, conta o pai de Milton.

Acto contínuo, os agentes conduziram Jó do Boy à 13ª Esquadra da Polícia Nacional, do Hoji-ya-Henda.

Os corpos dos malogrados foram recolhidos pelo SIC, por volta das cinco da manhã, sem qualquer perícia legal. O comandante Quintas, dirigiu-se ao local do crime para se inteirar do caso e, diante de vários residentes, disse apenas: “Mais um mau trabalho.” O seu comentário gerou algazarra entre os moradores e vizinhos dos jovens assassinados, tendo o pai de Lameth, o oficial das FAA, Pepito Laurindo, acalmado os ânimos.

A Esquadra do IFA [Comando da III Divisão da Polícia Nacional no município do Cazenga], é onde opera o famoso executor Pula-Pula, descrito em vários casos aqui reportados.

“O Jó do Boy foi morto nessa mesma noite pelo SIC, e o seu corpo depositado directamente na morgue. Os familiares foram ter com o meu vizinho, que explicou apenas tê-lo agarrado. Um agente teve pena da família e, a 2 de Outubro, informou-os de que o Jó do Boy fora morto no mesmo dia e que o seu corpo se encontrava na morgue, entre os não identificados”, refere o pai.

Para António Domingos Miguel, “o comando municipal da Polícia Nacional no Cazenga sabe quem fez o trabalho. Estão a esconder os assassinos”.

“O Toledo, chefe de buscas e capturas, teve a ousadia de me perguntar — na minha cara — se o meu filho e o amigo não eram do grupo do Jó do Boy”, denuncia.

“Precisamos de justiça. É uma dor que não vai acabar. Eu estava a formar este filho”, lamenta.

Editor
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