Esta é uma das deliberações saídas ontem da III reunião da Comissão Política da UNITA, após quatro dias de acesas discussões. Samakuva continua.
Mas para tal, foi necessário construir consenso pela via eleitoral. Os resultados da votação secreta proposta a um universo de 196 membros presentes, registaram três votos nulos (1,53 por cento).
Votaram contra a permanência 24 militantes (12,24 por cento) e 169 militantes (86,23 por cento) votaram a favor da permanência do politico de 71 anos à frente dos destinos da UNITA até à altura da realização do congresso, em 2019.
CONGRESSO SERÁ A PORTA DE SAÍDA
“Tenho mais um ano apenas, isto é, até 2018. E em 2019, o congresso acontece. Sairei não só de consciência tranquila, mas mantendo-me ligado aos militantes do meu partido”, disse Samakuva, para quem a vontade dos militantes não se sobrepõe à sua.
O presidente da UNITA, em breves declarações aos jornalistas no termo da III reunião ordinária da Comissão Política, disse mesmo que a ideia de ficar na liderança do partido por mais um ano não lhe agrada e que as decisões que tomou ao anunciar a sua saída continuam válidas.
“Exigi que houvesse votação secreta e estes resultados colocaram-me também contra a parede.
Não estou doente e não estou a fugir, mas para a minha vida pessoal não interessa sair numa situação em que deixo a ideia de que estou a trair como muitos me disseram”, sublinhou.
Sobre se teria ambição para voltar a candidatar-se em 2019, Samakuva limitou-se a responder que já não tem forças para isso e que muitos candidatos estão perfilados e já estão todos em movimento.
Ao aceitar acatar as deliberações sobre a sua permanência na liderança do partido, Samakuva foi aplaudido pelos militantes presentes no complexo do Sovsmo em Viana.
AUTARQUIAS LOCAIS
O presidente da UNITA anunciou que o seu partido vai agora verter todas as atenções e estratégias para as autarquias, projectando um maior número delas logo nas primeiras eleições autárquicas.
“Importa agora, em sede da Assembleia Nacional, assegurar que a aprovação do pacote legislativo para as autarquias locais salvaguarde, de facto, a transferência das atribuições da administração central do Estado para as autarquias locais e não para as administrações municipais”, disse Isaías Samakuva.
Para o político, só as autarquias, e não a administração local do Estado, têm o direito de gerir e regulamentar nos termos da Constituição da República e da Lei.
O grupo parlamentar do partido pretende, para o efeito, dar entrada das medidas de políticas elaboradas pelo partido para que se efective a despartidarização do Estado e o combate aos crimes económicos.
O líder da UNITA voltou a insistir na regularização jurídica, escritural e patrimonial dos rendimentos ocultos e que se processam fora da economia nacional, embora muitos se encontrem registados, falseando os dados da balança de pagamento do país.
“Isso é um assunto de interesse nacional que beneficia os detentores privados desse capital e o tesouro nacional”.
A III reunião da Comissão Política da UNITA recomendou a aprovação do projecto de lei específico do repatriamento de capitais subtraídos do Estado e insta o MPLA a viabilizar a constituição das comissões parlamentares de inquérito, encorajando também o Executivo a iniciar sem reservas, e no presente ano legislativo, a preparação de eleições autárquicas, há muito esperadas.
A comissão exige que o Executivo não confunda os cidadãos com a simulação de transferência de poderes de órgãos da administração central do Estado, para outros órgãos locais, em representação do poder central.
RECONHECIMENTO AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Na abertura do conclave, o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, reconheceu que as acções do Presidente da República, João Lourenço, “vão ao encontro dos anseios do povo por mudança. Temos de reconhecer, o Presidente João Lourenço surpreendeu-nos”, afirmou, “tem-se comportado como verdadeiro Presidente de uma República”.
O líder da UNITA reconheceu que “há sinais positivos dados por João Lourenço nestes primeiros dias de governação”, afirmando que “as forças da continuidade e do bloqueio à mudança” não têm alternativa senão fazer mea culpa e implementar as reformas políticas.
O político refutou a ideia segundo a qual João Lourenço deixou a oposição sem discurso e lembra que “estão enganadas as pessoas que assim pensam, porque é exactamente o contrário”.
Ao referir-se ao discurso do Presidente da República no encerramento do seminário sobre corrupção, disse que agora os angolanos esperam que João Lourenço passe das palavras aos actos.
JA