A detenção do alegado líder de uma rede de raptos em Moçambique contou com colaboração da TPC, polícia criada pelos governos da África do Sul, Moçambique e Tanzânia para combater o crime organizado transnacional.
Esmael Malude Ramos Nangy, tem 50 anos e é um empresário “respeitado” com negócios de camionagem.
A polícia de investigação moçambicana admitiu o envolvimento de funcionários da administração da justiça em casos de sequestro no país, dois dias depois de ser detido na África do Sul o homem suspeito de liderar um grupo que se dedicava a raptar para pedir resgates.
O suspeito foi detido numa propriedade de luxo em Centurion, área residencial entre Pretória, na capital, e Midrand, província de Gauteng, durante uma operação liderada por membros da Célula de Planeamento Trilateral (TPC) e da Organização Internacional de Polícia Criminal (interpol).
A operação foi realizada com “base num mandado de prisão e num pedido de extradição do governo de Moçambique” e contou com a colaboração da TPC, estrutura policial criada pelos governos da África do Sul, Moçambique e Tanzânia para combater o crime organizado transnacional na região
A polícia apreendeu armas e munições, cinco telemóveis, vários cartões bancários de bancos sul-africanos, bem como vários cartões SIM moçambicanos e sul-africanos na posse do suspeito, um empresário “respeitado” com negócios de camionagem entre Moçambique e a África do Sul, onde tem residência permanente, segundo o advogado de defesa, Calvin Maile.
A detenção de Esmael Malude Ramos Nangy de 50 anos e sobre quem pendia um mandado de prisão, desde Julho de 2022, por “crimes de sequestro e conspiração cometidos em Moçambique”, enquadra-se numa vasta operação das autoridades policiais para desmantelar a “indústria” dos raptos em Moçambique.
Só no ano passado, registaram-se 13 sequestros e 33 detenções por suspeita de ligações aos crimes, alguns dos quais contam com o envolvimento de familiares e funcionários da justiça, como admitiu o director do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic), Nelson Rego. “Preocupa-nos o envolvimento de pessoas do ciclo familiar, empresarial e de amizade, bem como de alguns funcionários dos órgãos da administração da justiça que colaboram na prática do crime de sequestro”, declarou Nelson Rego à Agência de Informação de Moçambique.
Em Maio, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, também se referiu ao envolvimento de agentes da polícia, investigadores, advogados e magistrados, acrescentando que os crimes têm vindo a aumentar e que nalguns casos há ramificações com a África do Sul.
Além de Moçambique, Esmael Nangy enfrenta acusações semelhantes de crimes de sequestro e conspiração na África do Sul. O detido é suspeito de organizar a onda de raptos que se tem registado nas capitais provinciais de Moçambique, segundo a ministra do Interior moçambicana, Arsénia Massingue e que se agravou desde 2020, não se “extinguindo” com o pagamento do resgate.
Como alertou em Maio a PGR moçambicana, algumas vítimas são “constantemente chantageadas”, mesmo depois de libertadas, para pagarem quantias em dinheiro e garantir que não voltam a ser raptadas.
JA