A Assembleia Nacional francesa aprovou uma sanção do deputado de extrema-direita Grégoire de Fournas, suspendendo-o por 15 dias, por um comentário racista feito durante uma sessão parlamentar.
O Parlamento francês suspendeu a sessão enquanto discursava um deputado negro, depois de um deputado nacionalista ter falado em “voltar para África”, não sendo claro se se referia a ele ou aos migrantes.
“Volta para África!“, gritou um deputado nacionalista no parlamento francês, enquanto discursava um deputado negro sobre a crise dos refugiados, o que gerou enorme celeuma na sala e levou à interrupção dos trabalhos.
Interpretando a tirada como um insulto racista dirigido diretamente a si, o deputado Carlos Martens Bilongo respondeu de imediato que não iria acatar a sugestão. “De todo”, respondeu icando depois em silêncio enquanto os colegas de bancada apontavam dedos e a presidente da Assembleia perguntava quem tinha dito aquilo.
O autor do comentário foi Grégoire de Fournas, deputado da União Nacional, partido fundado por Marine Le Pen. Com a polémica instalada, gerou-se alguma confusão sobre o destinatário do insulto, sobretudo porque “ele” e “eles” têm uma pronúncia semelhante em francês, ou seja, também poderá ter sido uma referência aos refugiados do Norte de África que eram o tema do discurso de Bilongo – uma interpretação alternativa seria “Eles que voltem para África!”.
Carlos Martens Bilongo, deputado do partido de esquerda França Insubmissa (LFI), terá ouvido o seu opositor da União Nacional e interpretado como um insulto racista pela cor da sua pele e a transcrição oficial dos trabalhos da Assembleia da República também interpretou a tirada no singular.
O episódio aconteceu esta quinta-feira, 3 de novembro. Carlos Bilongo estava a questionar o Governo sobre um pedido feito por uma organização não-governamental para que as autoridades apoiassem os 234 migrantes que foram salvos no mar, nos últimos dias. Foi aí que com microfone desligado, o deputado nacionalista gritou a frase polémica.
Entretanto, o líder da LFI, Jean-Luc Melenchon, pediu a expulsão do deputado pelo comentário “intolerável” em plena Assembleia da República francesa.
“Sou totalmente inocente dos factos com que sou acusado. Sofro esta sanção de uma dureza sem precedentes como uma grande injustiça. Mas, respeitando a instituição submeto-me a ela”, disse o deputado através do Twitter após a votação
“O livre debate democrático não pode permitir tudo. Certamente não (permite) insultos, certamente não racismo, qualquer que seja o objetivo. É a negação dos valores republicanos que nos unem nesta câmara”, disse Yaël Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional, depois de os deputados terem aprovado a punição, o máximo previsto nas regras da câmara.
Na votação, De Fournas, que nega o insulto racista dizendo que falou no plural e se referia aos barcos de migrantes ilegais, teve o apoio dos seus colegas da União Nacional ,o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, que considera as acusações uma manipulação feita pelos restantes grupos parlamentares.
Após a votação em que foi aprovada a suspensão, o deputado Carlos Martens Bilongo expressou o seu “alívio” por ter sido aprovada “a sanção máxima” ao deputado de extrema-direita.
“Não há espaço para o racismo na democracia”, disse quinta-feira a primeira-ministra, Elisabeth Borne. O Presidente francês, Emmanuel Macron, usou a mesma expressão: Macron diz ter ficado “magoado” pelo episódio e pelos comentários “intoleráveis” que foram feitos, independentemente de terem sido um insulto direto a Bilongo ou uma referência aos migrantes resgatados.
Observador