O renomado conomista Alves da Rocha, criticou hoje a falta de políticas públicas “consistentes” para a redução da “tremenda” taxa de pobreza em Angola e estimou que a economia angolana deve crescer entre os 2,3% e 2,5% em 2023.
“A nossa previsão no CEIC (Centro de Estudos de Investigação Científica) é que este ano o crescimento do país andara a volta dos 2,3% a 2,5%, não se afastando das previsões do FMI e do Banco Mundial, que poderão ser ainda mais baixas”, afirmou o economista em declarações à Lusa.
As previsões “são falíveis, é por isso que não há duas instituições que convirjam nos valores da taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a nossa perspectiva não se afasta das previsões internacionais”, argumentou.
Alves da Rocha referiu que em 20233 todas as economias do planeta deverão enfrentar este ano “momentos complicados”, sobretudo devido à taxa de crescimento da China, “que este ano deve ser inferior a 3%, de acordo com previsões do FMI”.
“Isto tem a ver também com a mudança de paradigma, do modelo de desenvolvimento da China, que há dois ou três anos priorizou o consumo agregado, sobretudo privado, porque quer retirar da pobreza toda gente (…).
E isto pode vir a ter algumas consequências em termos das relações comerciais internacionais”, disse. O também diretor geral do CEIC, órgão da Universidade Católica de Angola, aludindo a uma publicação da The Economist Intelligence Unit, referiu que as perspectivas económicas africanas para 2023 “são negativas”, particularmente, devido à situação internacional.
Altas taxas de inflação, altas de taxas de juros nos mercados monetários e financeiros, problemas de energia “tudo isto se vai reflectir numa atenuação do crescimento das principais economias africanas”. Em Angola o efeito boomerang da alta do preço do petróleo vai se verificar”, apontou.
Segundo Alves da Rocha, Angola, cuja economia depende das receitas petrolíferas, vai registar “momentaneamente” acréscimo nas receitas de exportação petrolífera, nas reservas internacionais e nas receitas fiscais. “Mas, tudo isto, depois terá consequências na medida em que Angola e outros países africanos são economias predominantemente importadoras e já se está a verificar um acréscimo dos preços dos produtos importados”, acrescentou.
Em relação às “incertezas” das economias mundiais, Alves da Rocha considerou preocupante as perspectivas a curto e médio prazo “nada boas”, sobretudo para as economias africanas, “que há dez anos já apresentavam dinâmicas de crescimento notáveis acima de 5%”. “E aquilo que se prevê até 2027, Banco Mundial (BM), FMI, The Economist Intelligence Unit são taxas de crescimento a volta dos 3%, médias anuaise Angola não foge a essa regra, o que significa que no longo prazo 2027, longo prazo de mangas arregaçadas, isto não perspectiva melhoria ou redução da taxa de pobreza”, justificou.
Lamentou o que chama de “tremendas” taxas de pobreza em Angola e em alguns países africanos e criticou a “falta de políticas públicas sólidas” em Angola para a redução da pobreza contrariamente como acontece em Portugal, sublinhou, “onde as autoridades assumem a pobreza” como uma prioridade política.
“Quando oiço que Portugal, por exemplo, está empenhado em até 2025/26 retirar da pobreza 400 mil pessoas, significa o reconhecimento de que há pobreza, fico de facto muito preocupado quando eu não vejo aqui em Angola”, atirou. “Pelo menos não me apercebi, da indicação de uma meta de quantas pessoas é que o Governo pretende retirar da pobreza em 2023 ou até 2027”, notou, recordando o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022, que previa reduzir a taxa de pobreza para 25%.
LUSA