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África precisa de 600 mil milhões USD para salto nas renováveis

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Além de financiamento para aumentar cinco vezes a produção de energias renováveis até 2030, a Cimeira Africana do Clima, que decorreu em Nairobi, de 4 a 6 de Setembro, serviu de pretexto para mostrar o potencial agrícola do continente, capaz de assegurar o “próximo cabaz alimentar do mundo”.

África precisa de 600 mil milhões USD, nos próximos sete anos, para atingir o objectivo de aumentar as energias renováveis de 56 gigawatts (GW) em 2022 para 300 GW até 2030, defenderam os chefes de Estado e de governo presentes na Cimeira Africana do Clima, em Nairobi, Quénia.

Esta quantia representa 10 vezes mais do que o capital financeiro para as renováveis que flui, hoje, no continente mais vulnerável aos impactos das alterações climáticas, como refere a Declaração de Nairobi, aprovada quarta-feira, dia em que os parlamentares africanos defenderam que a “mudança dos fluxos financeiros públicos e privados” ajudaria África a desbloquear o “próximo cabaz alimentar do mundo”.

Apesar de ser o continente mais afectado pela crise climática e o que menos contribui para as emissões de gases com efeito de estufa, África atraiu apenas 2% da despesa global em energias renováveis na última década, como se lê na declaração dos líderes africanos, que obtiveram a promessa de 4,5 mil milhões USD de investimento em energia limpa dos Emirados Árabes Unidos (EAU), país que em Novembro acolhe a COP28.

Além dos 4,5 mil milhões anunciados pelo sultão Al Jaber, presidente da estatal de energias renováveis Masdar e CEO da empresa petrolífera dos EAU (ADNOC), África somou, nesta cimeira, promessas de financiamento de 23 mil milhões USD, segundo o Presidente do Quénia, William Ruto. O anfitrião do encontro de três dias, destinado a definir uma visão comum sobre as mudanças climáticas antes da cimeira do G20, que decorre este fim-de-semana em Nova Deli, Índia, não forneceu, no entanto, informação detalhada sobre os investimentos, a origem e o destino, segundo a AFP.

Durante a cimeira voltou a ser defendida a reforma do sistema financeiro global, para que os países africanos tenham “condições de concorrência justas” no acesso ao investimento, como afirmou o Presidente do Quénia, que apelou ao estabelecimento de um acordo de alívio da dívida para evitar o incumprimento e ajudar as nações africanas endividadas a combater os efeitos das alterações climáticas.

Uma solução seria permitir o prolongamento do pagamento da dívida e a introdução de um período de carência de uma década. “Assim, em vez de gastarmos milhares de milhões de dólares a pagar a dívida este ano, usamo-los para fazer outras coisas. E depois, dentro de 10 anos, teremos estabilizado as nossas economias e poderemos pagar”, explicou William Ruto ao Financial Times, recusando a ideia de perdão de dívida. Só para cobrir o serviço da dívida, o Quénia paga actualmente cerca de 8 mil milhões USD por ano, ilustrou.

Investimento em sistemas alimentares

Numa carta, divulgada na semana em que decorreu a Cimeira Africana do Clima em Nairobi e o Fórum Africano sobre Sistemas Alimentares, em Dar es Salaam, Egipto, deputados de vários parlamentos africanos subscreveram uma carta onde defendem a criação de “ambientes legislativos que ajudem a colmatar o défice de financiamento da adaptação, de onde provém a maior parte do financiamento da agricultura”.

Segundo os parlamentares, os próximos meses são decisivos para ajudar a “criar ecossistemas alimentares africanos mais resilientes”, tendo em conta que, segundo estimativas, estão “disponíveis 630 mil milhões USD de capital privado por ano para investimentos em sistemas alimentares”.

Ora, tendo África (o “maior importador líquido de alimentos), as “maiores extensões de terra arável” e um ecossistema agrícola em crescimento, a “mudança dos fluxos financeiros públicos e privados poderia desbloquear o próximo cabaz alimentar do mundo, alterando a dependência excessiva e arriscada de fontes únicas para produtos de base específicos”, como é o caso dos cereais da Ucrânia ou o arroz da Índia.

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