Bancos continuam a mandar no mercado já que controlam 97,7% das contas custódia. Apesar de a maior parte dos investidores ter aberto contas para comprar acções poucos conseguiram comprá-las. A maior parte das contas custódia que ainda estão nos bancos não possui qualquer valor mobiliário.
Juntas, as instituições bancárias controlam 97,7% das contas custódia na BODIVA, sendo que quatro bancos, nomeadamente BAI, BFA, Atlântico e Caixa Angola, representam 94,79% das contas necessárias pelos investidores para comprar ou vender valores mobiliários na bolsa (ver gráficos)Criado com o objectivo de acabar com o conflito de interesses na gestão da carteira própria e a de clientes pelos bancos, o regulamento obriga à saída dos bancos da intermediação financeira no mercado de capitais até 2025 por várias fases.
Findo o prazo para a transferência de contas custódia que detêm acções e outros títulos privados, segue-se a 31 de Dezembro a transferência para correctores e distribuidoras das contas com títulos de dívida pública.Ao que o Expansão apurou, a transferência de apenas 2,3% das contas custódia para distribuidoras e correctoras é explicada por três factores, sendo o primeiro o número reduzido de investidores que detém acções dos bancos que deram inicio ao mercado de acções em Angola, nomeadamente o BAI e o Caixa Angola.
O maior banco em activos da banca nacional, liderado por Luís Lélis, tinha antes da Oferta Pública Inicial (IPO na sigla em inglês) apenas 54 accionistas e, findo o processo de venda ao público, passou a ter mais 842. Já no Caixa entraram 693 investidores que se juntaram aos então 3 accionistas antes da IPO. No caso do BAI entraram 842 de um total de 2.852 interessados, que estavam obrigados a criar uma conta custódia no banco. O que significa que apenas 30% conseguiu concretizar as operações de compra.
Já no caso do Caixa, 706 investidores abriram contas custódia e 693 conseguiram tornar-se accionistas do banco, o que representa uma taxa de “sucesso” de 98%. Ainda assim, os dois processos de venda de acções dos bancos criou uma onda de optimismo junto de potenciais investidores, o que fez crescer o número de contas custódia na banca. Até ao início de Maio de 2022 existiam 27.897 contas de custódia registadas na Central de Valores Mobiliários que é a empresa da BODIVA que responde pela pós negociação e custódia dos valores mobiliários na bolsa de valores. Hoje já são 85.300 contas custódia.
Ou seja, o facto de o número de contas custódia ter crescido avassaladoramente após as IPO”s indicia que o grosso dos investidores que abriu contas custódia teria interesse em comprar acções destes bancos negociadas em mercado secundário. Até porque era relativamente fácil abrir uma conta destas, até por via electrónica, e não comportava qualquer custo para o cliente do banco. Assim, alguns abriram conta custódia em mais de um intermediário financeiro na expectativa de conseguir comprar as tão desejadas acções mas sem sucesso. Dito de outro modo há muitas contas custódias vazias e que por isso há pouco interesse dos investidores em as transferir.
O segundo motivo, segundo apurou o Expansão junto dos bancos, são as dificuldades tecnológicas e de submissão de documentos por parte dos clientes na comunicação com o banco, que dificultaram a transferência de um número maior de activos para distribuidoras e correctoras. É por isso que existe um número de pedidos de transferência muito superior aos que forem de facto concretizados.O terceiro motivo é a fraca reacção dos clientes para cumprir o prazo de transferência.Expansão