Josefa Blanco liderava a Secretaria de Meio Ambiente; o voo comercial ficou retido por 38 minutos até que ela pudesse embarcar em missão de serviço.

O corte de privilégios de políticos e funcionários públicos, bandeira do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, provocou uma importante baixa na sua equipa de governo com a renúncia da ministra do Meio Ambiente e Recursos Naturais.

Josefa González Blanco foi forçada a entregar o cargo em meio a duras críticas após ter feito uma empresa aérea atrasar a decolagem de um voo comercial que ela estava prestes a perder.

Em sua carta de renúncia, admitiu que errou ao ter provocado o atraso aos outros passageiros a bordo. “Não há justificativa. A verdadeira transformação do México exige alinhamento total com os valores de igualdade e justiça”, disse a ministra.

“Ninguém deveria ter privilégios, ou os benefícios de um. Mesmo no cumprimento de seus deveres, não se pode estar acima do bem-estar da maioria”, acrescentou.

A ministra faria uma viagem a trabalho da Cidade do México para Mexicali, na fronteira com os Estados Unidos, na última sexta-feira (24/05), quando se atrasou por motivos que não foram esclarecidos.

  • Situação lamentável

O presidente mexicano contou que, por conta do atraso, González Blanco pediu a um executivo da companhia aérea Aeroméxico – de quem a ministra seria amiga – para manter a aeronave em solo até que ela conseguisse chegar ao aeroporto na capital mexicana.

“Eles tiveram que esperar por ela”, contou López Obrador no último sábado, ao descrever o que chamou de “uma situação muito lamentável”.

Um passageiro que documentou o atraso no Twitter afirmou que o voo 198 da Aeroméxico estava prestes a decolar quando o piloto anunciou que a aeronave teria que retornar ao terminal para buscar um passageiro atrasado após “ordem presidencial” o que em Angola seria o então propalado “ondens superiores”.

O incidente gerou um atraso de 38 minutos. Quando González Blanco embarcou no avião, o passageiro tirou uma foto da ministra e a compartilhou nas redes sociais num post crítico ao que acabara de ocorrer.

Após sua saída do cargo, González Blanco deixou claro que o presidente mexicano não teve qualquer relação com o incidente.

“Eu sou a única culpada. O presidente nunca interveio”, escreveu ela no Twitter.

López Obrador tomou posse no México em dezembro passado prometendo liderar uma transformação histórica na sociedade mexicana e governar para o povo.

Ponto importante dessa promessa foi a restrição dos privilégios de políticos e funcionários públicos mexicanos, o que inclui obrigá-los a voar em voos comerciais em vez de em jatos particulares ou helicópteros.

“Não podemos ter um governo rico e um povo pobre”, disse ele, que colocou o avião presidencial à venda na véspera de sua posse.

O presidente também se recusou a viver na antiga residência governamental, já transformada em um centro cultural aberto ao público, e segue na mesma casa em que vivia antes da eleição.

No sábado, disse que aceitou a renúncia da ministra do Meio Ambiente porque tal comportamento é incompatível com seu desejo de transformar o México.

“Não podemos falhar em nada. Quando cometemos um erro assim, temos que assumi-lo e renunciar”, afirmou. “Embora possa parecer uma medida drástica, enérgica, não temos o direito de errar em nada.”

EXAME