O mercado automóvel angolano está inflaccionado e a justificação dos operadores do sector prende-se com a desvalorização do Kwanza. O poder de compra não pára de cair e hoje os angolanos procuram melhor preço, descurando a qualidade.
As limitações financeiras dos angolanos estão a abrir caminho à compra de carros chineses que entram no País e são vendidos a preços mais baixos em relação aos construtores tradicionais de origem europeia, Japonesa e norte-americanos. Por cada quatro carros que entraram no País no I semestre, um tem origem na China.
Tratam-se sobretudo de camiões e SUV de origem chinesa que mais entram em Angola, e que têm vindo a ganhar cada vez mais mercado em Angola, já que face à queda contínua do poder de compra, uma vez que a inflação não tem sido compensada pelo aumento dos salários, os angolanos procuram cada vez mais melhor preço em vez de qualidade.
O peso das marcas chinesas nos últimos anos no País tem sido de tal ordem que três distribuidores já se juntaram à Associação da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transporte Rodoviário e Outros (ACETRO). Só para se ter uma ideia, a Kinlai, empresa que vende a marca DongFeng, de origem chinesa, nos primeiros sete meses do ano vendeu 194 unidades em todas as categorias. As restantes duas empresas não revelam, ainda, os números de vendas nos relatórios da ACETRO, mas a sua presença na associação revela que estão para ficar.
Quanto aos concessionários e distribuidores de marcas tradicionais de veículos novos em Angola reconhecem que há cada vez mais carros chineses no mercado, mas alertam para a reduzida qualidade que estes apresentam em comparação com as outras.
O presidente da ACETRO, Nuno Borges, admitiu ao Expansão que a desvalorização do Kwanza em cerca 40% em Maio e Junho obrigou ao aumento de preços das viaturas. Lembra, por outro lado, que além da questão cambial, também “o poder de compra não cresceu, tendo-se mesmo agravado pelo efeito inflacionário de forma geral”.
Nuno Borges, que também é accionista da CFAO Motors Angola, a empresa que representa e vende a marca Toyota no País, explica que “perante este cenário verificamos um grande impacto nas empresas tendo as sua vendas caído de forma muito acentuada, quer seja em venda de viaturas e peças, quer na prestação de serviços de assistência técnica”.
Mas se a venda de carros tem sido travada pela crise cambial, isso não significa que não estejam a entrar viaturas, novas e usadas, no País com o objectivo de serem comercializadas. De acordo com dados da Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística de Angola (ARCCLA), só no primeiro trimestre deste ano entraram no País 11.182 veículos, representando um aumento de 5.195 veículos, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.
Em termos geográficos, realce para os Emirados árabes Unidos com o registo de 3.380 unidades, seguindo-se a China com 2.761 unidades, a Índia com 1.684 unidades, a Bélgica com 1.252 unidades e o Brasil com 501 veículos. Já da Coreia do Sul vieram 487 carros, do Japão 153 unidades, da Tailândia 80 unidades, da França 72 unidades e de Portugal 70 unidades.
Contas feitas, 55% dos veículos que entraram em Angola entre Janeiro e Março vieram dos Emirados e da China. Se estas contas incluíram a Índia, 70% das viaturas importadas por Angola tiveram origem nestes três países. “É verdade que a penetração de veículos com origem chinesa está a aumentar, com destaque para os SUV e camiões, tendo intensificado o modelo competitivo do sector automóvel. A competitividade não será pelo lado da qualidade, mas sim pelo lado do preço de venda ao público”, adiantou o empresário, reforçando que limitações do poder de compra favorecem o mercado de veículos a preços mais baixos.
Marcas chinesas sem representação
Três empresas de capitais chineses dominam as vendas de carros chineses em Angola, nomeadamente a Kinlai, que vende carros da marca DongFeng, a Jetour Angola, que vende os SUV Jetour, e a MB- Consulting que está na distribuição da marca Geely, com quatro modelos.
Expansão