O ex-Presidente da República fez um dos discursos mais violentos de um antigo inquilino de Belém em relação a um Governo, e seguramente esta é a sua intervenção mais dura e crua desde que deixou funções, em 2016.
Cavaco não deixa pedra sobre pedra: chama mentiroso e incompetente a António Costa, que quer “comprar votos”, e apela a que tenha um “rebate de consciência” para se demitir: “Nunca um Governo desceu tão baixo”. Elogia Luís Montenegro, amarra o PSD a um guião, mas também aponta a Marcelo.
Aníbal Cavaco Silva foi ao 3º Encontro dos Autarcas Sociais Democratas, este sábado, em Lisboa, para dizer que Luís Montenegro está mais bem preparado do que ele estava em 1985 para ser primeiro-ministro e para fazer o discurso mais violento e arrasador que alguma vez este ex-Presidente da República fez em relação a um Governo: disse que o poder socialista (e António Costa) é incompetente, “mentiroso”, que pôs o país no”caminho da degradação política” com uma governação “desastrosa”, acabando por apelar ao primeiro-ministro para ter um “rebate de consciência” e apresentar a demissão. Cavaco entrou na guerra política com argumentos de gladiador: “Nunca um Governo desceu tão baixo”, acusou quando mencionou o dossiê da TAP.
Os qualificativos usados por Cavaco – numa linguagem de uma violência pouco habitual num ex-Presidente, que teve mandatos tão institucionalistas -, são inéditos num homem que Marcelo Rebelo de Sousa, num comentário há uns anos, classificou como de um PR “herbívoro” na interpretação dos poderes presidenciais.
“Existem duas áreas em que a governação socialista é especialista: mentiras e truques”, atirou agora Cavaco Silva. As frases são de um ex-Presidente carnívoro: “Não houve praticamente um dia em que não fosse feita a demonstração de que o Governo mente”, descreveu Cavaco sobre o processo da TAP. “Ainda se pode acreditar num Governo que passa o dia a mentir?”, questionou. O PS “governa o país aos solavancos”, com uma central “de propaganda” cujo objetivo é “desinformar, condicionar, iludir e anestesiar os cidadãos”.
Embora o tremendismo de toda a intervenção aos autarcas do PSD – ou ao país – convocasse Belém para uma dissolução, como o protocolo dita que um ex-Presidente não critica nem se dirige ao Chefe de Estado em funções, Cavaco apelou em vez disso à saída do primeiro-ministro pelo seu próprio pé: “Em princípio, a atual legislatura termina em 2026, mas, às vezes, os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país, depois de um rebate de consciência, decidem apresentar a demissão e dar lugar eleições antecipadas”, disse Cavaco Silva a meio do seu discurso de 51 minutos.
“Foi o que aconteceu em março de 2011”, precisou, quando José Sócrates se demitiu com o país à beira da bancarrota. A comparação com Sócrates não é inocente: Costa está a agora a braços com outra ‘bancarrota’: uma ”degradação” institucional, com um Governo em que “na palavra pública e na atitude dos seus membros, escasseia a competência, mas abunda o populismo e a hipocrisia”. E cujas iniciativas políticas, como o pacote da habitação, se distinguem pela “falta de qualidade”.
Express